10.19.2010

INGRATIDÃO



INGRATIDÃO

É muito difícil compreender certas contradições e paradoxos da vida. O exame metódico e sereno das coisas, feito por processos rigorosamente científicos, baseados numa segura e firme argumentação, não se aplica quando se pretende explicar determinados mistérios da alma humana, que observação mais aguçada e minuciosa. Por isso, na necessidade de analisar esses sentimentos e de os explicar melhor ou pior, tem de se recorrer ao estudo de tantos outros factores que com eles estão relacionados, e depois, por deduções, bastantes ocasiões muitas vezes à "contrário sensu", concluir aquilo que parece estar mais conforme com as circunstâncias especiais no fenómeno.
Há sentimentos que desnorteiam e desorientam as mais sólidas teorias e entre eles figura, talvez, em lugar bem distinto, precisamente porque é dos mais vulgarizados, a ingratidão, nas suas múltiplas fórmulas e revelações externas. Não custa nada, por muito orgulhoso que seja, mostrar reconhecimento a quem nos fez um favor, e que, portanto, se soubermos ser delicados, nos pode vir a fazer muitos mais.
Agradecer é sinal de superioridade de carácter, um pretexto para merecermos a confiança de amigos bons e sinceros, dos quais, mais depressa do que se julga. E, apesar disto, os homens, ainda mal acabaram de receber um a gentileza, já estão esquecidos da mão que os amparou com o benefício, quando não pagam com qualquer grosseria a benevolência tida. Quando eu encontro alguém que sabe ser reconhecido, fico admirado, admirando a superioridade desse alguém o que é tão raro nos dias que correm.
Os homens obcecados na alucinada demência duma maldade feroz e egoísta, esquecem o que convém às suas conveniências, agradecer para receber, pois não é com "espinhos que se colhem rosas"...
Ocultos atrás dum sorriso alvar, escondidos na mesquinha insolência duma inteligência que a maldade desvaria à multidão é difícil sentir prazer espiritual da gratidão.
Reconhecer uma fineza, é admitir em alguém uma virtude, prestar-lhe homenagem, elevá-la, e essas criaturas não sabem mais do que rebaixar os outros, difamar todas as intenções honestas e todos os esforços generosos.
Ser reconhecido e agradecer, é prestar um alto acto de Justiça e, devemos confessá-lo, se o verdadeiro sentido de Justiça não existe na maioria dos homens, também não pode existir neles o sentido abençoado da gratidão.
Tenho sentido na pele a feroz ingratidão desde a fundação desta associação, que por sua vez se torna difícil explanar. Por vezes surge do lado que menos esperava, mas, o ser humano na sua maioria é assim, é ingrato, é mau e tem memória curta.
Apesar de tudo a obra está ai, os resultados alcançados falam por si deitando por terra a incredibilidade que muitos revelaram e profetizaram contra este projecto desde o seu início. São necessárias pessoas que estejam motivadas para elevar ainda mais a ADASCA, e não as motivadas pelo fingimento, inveja, intriga e ingratidão, com o intuito de a destruir, existe pois algumas dessas ervas daninhas no seu interior, que em muito me têm infernizado a vida.
Para poucos a ADASCA é filha, para alguns é sobrinha e para muitos é enteada. É nesta última condição que desde sempre tem sido tratada.
Haja respeito pelo trabalho que tem sido desenvolvido em prol da comunidade necessitada.
"Existem três classes de ingratos: os que silenciam diante do favor; os que o cobram e os que se vingam." (Romón y Cajal), e concluo com mais este pensamento: "Quem recebe o que não merece, poucas vezes o agradece." (Francisco Quevedo).
NB: Este artigo foi publicado no Diário de Aveiro no dia 22-10-10, págª. 6 e vai ser publicado na Revista Tribuna da ADASCA, edição nº. 1.
Faço votos para que nunca seja necessário tornar público neste espaço o que tenho sofrido desde que fundei esta associação, pois os amargos de boca são mais que muitos.

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