2.29.2012

Em situações de crise o Instituto do Sangue vai pedir a padres para apelar à dádiva nas missas

Dadores de sangue perderam a isenção do pagamento das taxas moderadoras nos hospitais

Por (Nuno Ferreira Santos).

Assim que haja sinais de quebra das reservas de sangue do país, o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) vai passar a mandar SMS para os dadores, a ligar pessoalmente a dadores cujos grupos sanguíneos estejam em falta e a envolver os padres para que façam apelos à dádiva nas missas, disse aos jornalistas o presidente deste organismo público, Hélder Trindade.

Estas são algumas das medidas previstas por este organismo público, depois de em Janeiro deste ano se ter assistido a uma diminuição de 16% do nível de dádivas de sangue face ao último mês do ano passado.

O responsável foi chamado hoje à comissão parlamentar de saúde pelo Bloco de Esquerda para debater “a situação actual das reservas de sangue e as razões para a sua quebra acentuada, bem como as medidas necessárias para repor os seus níveis habituais e evitar a repetição de situações como a actual”.

A quebra foi de cerca de três mil dádivas em Janeiro: o instituto colheu pouco mais de 16 mil unidades de sangue contra 19 mil no mesmo mês do ano anterior. Uma quebra de quase 16%, portanto. Os números de Fevereiro ainda não são conhecidos mas o responsável admite que se vive uma situação “de limites de alerta. Não estou confortável com as reservas mas não estamos em situação de ruptura”. Para isso, o médico enunciou uma série de medidas que estão agendadas. Já em Março vão fazer recolha junto da população universitária. “Espero sair da fase de crise em Março”.

Em situação de carência, vão passar a mandar SMS para os dadores e a ligar pessoalmente para dadores cujos grupos sanguíneos estejam em falta. O director falou também dos contactos havidos com o Patriarcado e a Pastoral da Saúde para, que, em situações de maior carência de sangue, os padres façam apelos à dádiva nas missas. Vão também passar a juntar às brigadas do Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea a recolha de sangue. “Temos que passar a mensagem de que não se faz um transplante de medula sem muitas transfusões de sangue”.

Mas durante mais de duas horas, Hélder Trindade tentou responder à pergunta na boca de quase todos os deputados: a que se deveu tamanha quebra nas dádivas. O deputado bloquista João Semedo lançou logo à partida uma das explicações que mais tem estado em cima da mesa: o fim da isenção das taxas moderadoras para os dadores de sangue nos cuidados hospitalares (nos centros de saúde mantém-se a isenção). “Concorda com o fim da isenção?”.

O responsável não nega que “a retaliação” contra esta medida poderá ter sido um dos factores que pesou na baixa, mas escusou-se a comentá-la por ser “uma decisão política que ultrapassa o IPS”. O responsável afirma que os níveis altos gripe podem ter sido outros dos factores que afastou os dadores da dádiva durante o primeiro mês do ano.

Hélder Trindade notou também que houve um acréscimo do consumo de sangue este ano, em contraste com o que estava a acontecer no ano passado, em que tinha havido uma redução de dádivas (menos 6%) mas também de necessidades, por haver cada vez cirurgias menos invasivas e, por isso, a precisar de menos sangue, explicou.

Na sua intervenção, Hélder Trindade sublinhou que esta é uma área em que “é precisa serenidade” e que as notícias que têm saído sobre o sector não têm ajudado. Referia-se concretamente a uma notícia do PÚBLICO, que em 6 de Fevereiro, deu conta do desperdício actual de um dos componentes do sangue, o plasma, na maioria das colheitas feitas, uma situação que confirmou na comissão. O director do IPST admitiu: “vamos ter que abrir um concurso para fraccionar o plasma [que não é usado]”, mas não avançou com datas. Este concurso está em cima da mesa pelo menos desde o ano passado.

O director do IPST disse não haver respostas definitivas para as razões este decréscimo mas disse que “estamos a viver uma situação excepcional”. Hélder Trindade admitiu que as brigadas de recolha de sangue tiveram que passar a ser melhor rentabilizadas, evitando deslocações das brigadas móveis quando estão em causa muito poucos dadores. A deputada comunista Paula Santos perguntou se não se está desta forma “a reduzir as hipóteses de dádiva”.

Fonte: Jornal “Público”

29.02.2012 - 16:10 Por Catarina Gomes

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