6.27.2015

Discurso de Alexis Tsipras


Discurso de Alexis Tsipras


A tradução deste discurso foi feita por Isabel Atalaia a partir da tradução não oficial para inglês de Stathis Kouvelakis. Em ambos os casos, as traduções foram feitas com grande urgência, por se entender prioritário difundir um discurso de importância fundamental. Por esse motivo, este texto será actualizado caso se verifique a necessidade de fazer qualquer alteração que salvaguarde a sua fidelidade ao original.

Compatriotas,

Durante estes seis meses, o governo grego tem travado uma batalha em condições de asfixia económica sem precedentes para implementar o mandato que nos foi dado, a 25 de Janeiro, por vós.
O mandato que negociávamos com os nossos parceiros visava acabar com a austeridade e permitir que a prosperidade e a justiça social regressassem ao nosso país. Era um mandato com vista um acordo sustentável que respeitasse quer a democracia, quer as regras europeias comuns e que conduzisse à saída definitiva da crise.
Ao longo deste período de negociações, fomos convidados a executar os acordos concluídos pelos governos anteriores através dos memorandos, embora estes tenham sido categoricamente condenados pelo povo grego nas recentes eleições.
Apesar disso, nem por um momento pensámos em render-nos. Isso seria trair a vossa confiança.
Após cinco meses de duras negociações, os nossos parceiros, infelizmente, lançaram, na reunião do Eurogrupo de anteontem, um ultimato à democracia grega e ao povo grego.
Um ultimato que é contrário aos princípios e valores fundamentais da Europa, aos valores do nosso projecto comum europeu.
Pediram ao governo grego que aceitasse uma proposta que representa um novo fardo insustentável para povo grego e boicota a recuperação da economia e da sociedade grega, uma proposta que, não só perpetua a instabilidade, mas acentua ainda mais as desigualdades sociais.
A proposta das instituições inclui: medidas conducentes a uma maior desregulamentação do mercado de trabalho, cortes nas pensões, reduções adicionais aos salários do sector público e um aumento do IVA sobre os alimentos, a restauração e o turismo, enquanto elimina alguns benefícios fiscais das ilhas gregas.
Estas propostas violam directamente os direitos sociais e fundamentais europeus: elas são reveladoras de que, no que diz respeito ao trabalho, à igualdade e à dignidade, o objectivo de alguns dos parceiros e instituições não é um acordo viável e benéfico para todas as partes, mas a humilhação do povo grego.
Estas propostas manifestam, sobretudo, a insistência do FMI na austeridade severa e punitiva e tornam mais oportuna do que nunca a necessidade de que as principais potências europeias aproveitem a oportunidade e tomem as iniciativas que permitirão o fim definitivo da crise da dívida soberana grega, uma crise que afecta outros países europeus e ameaça o futuro da integração europeia.
Compatriotas,
Pesa, agora, sobre os nossos ombros uma responsabilidade histórica face às lutas e sacrifícios do povo grego para a consolidação da democracia e da soberania nacional. A nossa responsabilidade para com o futuro do nosso país.
E essa responsabilidade obriga-nos a responder a um ultimato com base na vontade soberana do povo grego.
Há pouco, na reunião do Conselho de Ministros, sugeri a organização de um referendo, para que o povo grego decida de forma soberana.
A sugestão foi aceite por unanimidade.
Amanhã, será convocada uma reunião de urgência no Parlamento para ratificar a proposta do Conselho de Ministros de um referendo a realizar no próximo domingo, 5 de Julho, sobre a aceitação ou rejeição das propostas das instituições.
Já informei desta minha decisão o presidente francês e a chanceler alemã, o presidente do BCE, e amanhã farei seguir, por carta, um pedido formal, aos líderes e às instituições da UE, para que prolonguem por alguns dias o programa actual, para que o povo grego possa decidir, livre de qualquer pressão e chantagem, como é exigido pela Constituição do nosso país e pela tradição democrática da Europa.

Compatriotas,

À chantagem do ultimato que nos pede para aceitar uma severa e degradante austeridade sem fim e sem qualquer perspectiva de recuperação social e económica, peço-vos para responderem de forma soberana e orgulhosa, como a história do povo grego exige.
Ao autoritarismo e à dura austeridade, responderemos com democracia, calmamente e de forma decisiva. A Grécia, o berço da democracia, irá enviar uma retumbante resposta democrática à Europa e ao mundo. Estou pessoalmente empenhado em respeitar o resultado da vossa escolha democrática, qualquer que ele seja. E estou absolutamente confiante de que a vossa escolha honrará a história do nosso país e enviará uma mensagem de dignidade ao mundo. Nestes momentos críticos, todos temos de ter em mente que a Europa é a casa comum dos povos. Na Europa, não há proprietários nem convidados.
A Grécia é e continuará a ser uma parte integrante da Europa e a Europa é uma parte integrante da Grécia. Mas, sem democracia, a Europa será uma Europa sem identidade e sem rumo.
Convido-vos a demonstrar unidade nacional e calma para que sejam tomadas as decisões certas. Por nós, pelas gerações futuras, pela história do povo grego.

Pela soberania e a dignidade do nosso povo.
Atenas, 27 de Junho, 1h00.
Discurso de Alexis Tsipras
Postado por Joaquim Carlos, Coordenador do Projecto de Comunicação e Imagem

27/06/2015 por Autor Convidado 21 Comentários
Comments
Manuel Cunha says:
27/06/2015 às 09:32
Era preciso mais homens destes na Europa e no resto do mundo. Acima de tudo, até da própria morte, deve estar a dignidade humana. A história julga e parecendo que não até mata os proscritos.

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Humberto Cósta says:
27/06/2015 às 16:55
Isto carece e confirmação. Nada me diz que é oficial.

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José Silva says:
27/06/2015 às 09:48
Isto é um democrata e, acima de tudo, um político consciente, responsável e que honra as suas promessas !!!
Coisa rara nesta Europa de hoje !!!!!

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Maria correia says:
27/06/2015 às 09:54
Precisamos de políticos como Tsipras!

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M David says:
27/06/2015 às 10:07
obrigado Alexis, já ca canta.
cordialmente,
Passos Coelho

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vmoita says:
27/06/2015 às 10:10
Primeiro ministro da Grécia … Um exemplo … e um discurso de dignidade e coerência políticas. … Tudo o que o primeiro ministro e o governo de Portugal (?!!!) precisam de adquirir!

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PAULO BATEIRA says:
27/06/2015 às 11:03
É bonito e raro este tipo de seriedade política, mas… ineficaz. «Eles» (a Alemanha e afins) não se vergarão. É triste dizê-lo, mas isso é uma evidência desde há anos – é pena que os gregos tenham sido tão ingénuos… Agora, é sair da Zona Euro o mais rápido possível, caso queiram viver (e não apenas sobreviver). Cf.: Quo vadis, Europa?
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2015/06/quo-vadis-europa.html
«A SALA DE CIMA» – 23 JUNHO 2015
http://asaladecima.blogspot.pt/2015/06/uma-moeda-comum-sem-alemanha-f-lordon.html

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Iris says:
27/06/2015 às 12:03
Que o povo grego não se renda a estes sanguessugas. Avante Grécia!

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Afonso Liborio says:
27/06/2015 às 12:50
O primeiro Ministro da Grécia mostra com o seu discurso que é uma pessoa competente séria e que quer para a Grécia e para a Europa medidas justas e honestas capazes fortalecer a Europa e até o Mundo,Portugal precisa também de ter um Primeiro Ministro que seja verdadeiramente Democrático como é o Primeiro Ministro da Grécia.

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Lucília Guerreiro says:
27/06/2015 às 13:05
Que cada um de nós seja a coluna viva que representa o espírito livre da de,Oceania que as palavras do presidente Grego contêm. Que em nós more a LIBERDADE como algo vivo que toma forma através dos nossos sentimentos, pensamentos e acções e no mundo não haverá lugar para ditaduras. Enquanto não banirmos a ditadura dentro de nós ela não será banida no mundo.

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Lucília Guerreiro says:
27/06/2015 às 13:10
Reponho a palavra certa. Onde está escrito “de Oceania” deve ler-se Democracia.

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Rui Manuel de Carvalho Pereira Cabral says:
27/06/2015 às 13:25
parabens à Isabel, pela tradução apressada e contudo excelente, pela claridade. gosto muito deste bater do pé. o povo grego tem andado a ser tratado como delinquente. a teoria é de que os pobrezinhos não deviam ter eleito estes mafarricos. o problema das gravatas às bolinhas em Bruxelas é que a gente que deu a democracia ao mundo vai exercê-la outra vez. talvez apareça uma solução miraculosa por causa do nervosismo dos mercados bolsistas. mas estou confiante em que os helénicos vão abanar pelo voto esta pasmaceira. eu, por agora, sou grego.

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Daniel Marques Augusto says:
27/06/2015 às 13:42
Resumo: prometemos o que não podíamos cumprir. Os malandros dos credores (perdão, parceiros) não nos emprestam (dão?) mais dinheiro nas condições que queremos, assim dizemos que estamos em negociações! Como não chegamos a lado nenhum pois o nosso programa de governo era uma farsa, vamos referendar isto para lavarmos as mãos ao bom estilo bíblico! No final disto dizemos que fizemos tudo pelo povo grego, quando fomos responsáveis por os enterrar… Entretanto vamos vender-nos à Rússia! Beijinhos e abraços… O meu dinheiro há muito que está no estrangeiro!

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Nightwish says:
27/06/2015 às 14:25
Mas a Grécia viu algum dinheiro europeu nos últimos 5 anos, em violação dos tratados europeus?

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TY says:
27/06/2015 às 15:57
Não, pois claro que não! A grécia só não deve mais de 1,6 mil milhões de euros aos crédores! E por acaso não deve dinheiro ao resto da europa, não!!! A grécia (coitada) é apenas uma vitima no meio de tudo isto!!! Empreste-me dinheiro, que eu em democracia nunca mais lho devolvo, e mais tarde ainda lhe peço mais, porque me acho em condições de tal !!! :)

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luisa barradas says:
27/06/2015 às 15:57
A Grecia faz parte da Europa A Grecia só esta como esta pela imposicao de liberdades devaneios e excessos que a Europa da captacao de divisas pelo apelo ao consumo e pelas instituicoes financeiras especulativas construiram! Agora tem de ajudar este povo guilhotinado!

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joão lopes says:
27/06/2015 às 16:01
concordo com tudo,mas acho que esse referendo se devia estender a outros países da europa como Portugal ou Espanha.e também uma verdadeira auditoria em Portugal aos governos do psd/cds e ps.porque o que os “credores” querem é que o comum cidadão perca a calma de forma a dar “razão” aos ditos “credores” como quem diz:vejam,nós ultraliberais é que temos razão, os tipos nem sabem governar e alem disso são loucos.pura psicologia de…sarjeta.

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Hélder P. says:
27/06/2015 às 16:35
Exacto, precisávamos de uma auditoria à dívida como a que o parlamento grego está a desenvolver. Temos o direito de saber de onde veio a dívida.

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Zé Pontinhos says:
27/06/2015 às 16:25
A semântica é criativa, mas o povo não vive de palavras.
“O mandato que negociávamos com os nossos parceiros visava acabar com a austeridade e permitir que a prosperidade e a justiça social regressassem ao nosso país.” das maravilhas…

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Manuel Pereira says:
27/06/2015 às 16:29
A opinião do sr. Daniel Marques Augusto é uma afronta aos gregos e a todos aqueles que em Portugal perderam a casa por causa da crise. Pediram dinheiro ao banco; o banco emprestou o que cada um quis e até ofereceu mais; as casas valiam sempre cada vez mais; veio a crise a casa desvalorizou, o dono perdeu o emprego, deixou de poder pagar; o banco avançou com a costumada prepotência e ficou com a casa. O dono ficou sem casa e continuou com a dívida… Quer que eu explique de novo?
Pior, o actual governo grego foi eleito há seis meses, pela primeira vez; quem levou o país àquele estado foram os anteriores, capangas da Europa.
Viva a Grécia, viva a Democracia, viva o poder dos cidadãos!
Eu sou português, mas apoio os gregos e o referendo!

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carlos pereira da silva says:
27/06/2015 às 17:26
É de um primeiro ministro como este que Portugal precisa!…
Não é de um pau mandado e subserviente como o que temos…

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